Reconhecida
- Ana Cláudia Souza
- 28 de mar. de 2018
- 2 min de leitura
O dia em que Dona Zuleika recebeu a medalha Chiquinha Gonzaga.

Em fevereiro de 2013, chegou uma informação: sua mãe está sendo indicada para receber a Medalha Chiquinha Gonzaga, concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro a mulheres que tenham se destacado em prol das causas democráticas, humanitárias, artísticas e culturais. Entre surpresos e orgulhosos, esperamos a confirmação e o dia do evento. Os dias passaram, vimos que a publicação saiu no Diário Oficial do Município, mas nada da medalha chegar à homenageada. Deixamos o assunto
de lado e a vida seguiu.
De lá para cá, muita coisa aconteceu: mamãe lançou seu livro (com direito a uma intensa tarde de autógrafos, feita embaixo de uma árvore – uma frondosa pata de vaca, plantada por um dos meus irmãos – onde fica o Espaço Cultural Professor Darcy Ribeiro, inventado por ela); fez 87 anos; deu um susto na gente com um piripaque no coração que a deixou um mês no hospital; ganhou o prêmio Toda Sabedoria do Jornal Extra; manteve a agenda de encontro com as amigas que toda sexta-feira se encontram na cozinha da casa dela para bater papo, tomar chá, jogar bingo, se atualizar; se entusiasmou com as iniciativas que estão rejuvenescendo, refrescando e reinventando a forma de mobilizar os moradores do bairro, especialmente os jovens; manteve a casa aberta aos encontros, a um tanto de gente que vai e volta e passa e chega e fica e vem...
E eis que mais de um ano depois, a medalha Chiquinha Gonzaga chegou até a homenageada. Não era lenda! E foi uma surpresa para todos nós.
Em vez de sessão solene, no plenário da Câmara, a entrega foi feita na cozinha da casa, em meio aos amigos e à família, que estavam todos reunidos por outro motivo festivo: comemorar mais um ano de vida da mamãe, que no dia 9 de julho chegou aos 88 anos. “Virei sardinha”, ela fez graça, lembrando aquela antiga marca que tinha Adele Fátima como garota-propaganda que sambava enquanto o slogan dizia: “nem 8 nem 80: sardinha é 88”.
Nesse ambiente irreverente, esta senhora irreverente, recebeu feliz e orgulhosa, rodeada de gente querida, a linda medalha que carrega o nome de outra mulher irreverente, Chiquinha Gonzaga.
Não houve pompa, não houve cerimonial, tapete vermelho, rigidez de protocolo. O que havia era muita gente em casa, criança passando entre os adultos, um pedindo ao outro para manter silêncio enquanto um discurso improvisado era adaptado à intimidade da ocasião.
Talvez não tenha sido essa a forma que a vereadora Rosa Fernandes, que teve a ideia de homenagear mamãe, tenha imaginado para entregar a comenda. Mas na irreverência da cerimônia não havia nada de desprezo ou desrespeito pela homenagem. Pelo contrário: a cozinha é um lugar nobre na casa da minha mãe, uma pessoa que dá o maior valor às coisas mais simples.
Para ela, foi uma cerimônia e tanto. Para nós também. Parabéns, dona Zuleika!
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